Se os autores do Clube Literário de Gravataí, principalmente, quiserem mandar seus livros em pdf para que escrevamos a respeito, o e-mail é evjj1969@gmail.com ou pelo Whats (51) 995782395.
*****************************************************************************************A Conquista, de Coelho Neto
Eduardo Jablonski
Professor
Ao contrário do que dizem os manuais de literatura do ensino
médio, o escritor pré-modernista maranhense Coelho Neto não é apenas um
romancista que gostava de usar termos raros, esquisitos e mortos. É verdade que
emprega algumas palavras eruditas, mas suas obras são do século XIX, quando se
falava uma língua portuguesa diferente da atual. Como ressalta a linguística,
os idiomas se modificam no decorrer do tempo. Quem sabe a língua de José
Saramago fosse mais ou menos daquela forma em 1899, quando Coelho Neto lançou o
romance A Conquista.
Trata-se de um livro que prende o leitor do início ao fim,
como os romances de Borges Netto e de Fernando Medina (dois companheiros do
Clube Literário de Gravataí). Sua temática é variada, aborda o dia a dia de
escritores que tentam viver de literatura num Brasil com 95% da população
analfabeta. Alguns deles, como ainda hoje acontece, resolvem destinar seus
textos à imprensa, para ter como se sustentar. Mas o jornalismo de então era
precário e incipiente. Como pano de fundo, se desenvolve a batalha para a
Abolição da Escravatura.
A história se dá talvez no mesmo ano da Abolição, 1888, e o
nome do jornalista José do Patrocínio é exaltado como um herói nacional. A
literatura tem esse poder de registrar um momento da história, o que acontecia
nos bastidores da política, do jornalismo e da literatura.
Outro detalhe importante a ressaltar é a malandragem de
Coelho Neto. A Conquista está repleta de piadas e frases de humor. É quase um
livro cômico. Lendo esse romance, dá para entender por que dizem que Coelho
Neto publicou perto de uma centena de romances.
********************************************************************
O CABELEIRA 1876
Eduardo
Jablonski
Professor
Em 1876, o cearense Frankling Távora
publicou um romance histórico sobre o que talvez tenha sido o primeiro
cangaceiro do Nordeste, o Cabeleira, enforcado cem anos antes. O argumento, portanto, é real, conta a
história de José Gomes, que se transformou num bandido por causa do seu pai,
Joaquim, que o ensinava a matar. No meio da narrativa, o autor emite opinião
sobre a maldade humana (1876, p. 18), e fica um tanto ridícula essa intromissão
do narrador. Sugere que o menino nasceu com bom coração (dentro do senso comum
de Rousseau, a teoria do bom selvagem), mas foi influenciado pelo meio e por
seu pai. Tal colocação quase faria com que o livro ingressasse na escola
naturalista, mas alguns posicionamentos melodramáticos o definem como
romântico. A mãe de José mostra racismo ao dizer que pelo menos o filho não era
negro como o pai (TÁVORA, 1876, p. 19). Luisinha se engraça pelo menino José,
que lhe pergunta se ela gostaria de se casar com ele. Luisinha diz que casaria
se José parasse de fazer mal aos bichinhos e bater nos meninos (TÁVORA, 1876,
p. 25). O desejo da moça terá repercussão no final da história, porque
transformou o caráter do cangaceiro. O romantismo também se dá no fato de criar
a personagem pai totalmente má, enquanto a mãe era totalmente boa. Não se trata
de seres humanos realistas, como os de Machado de Assis.
Alguns professores de Letras podem
pensar que os clássicos da literatura nacional têm importância apenas como
registros históricos, mas isso está longe de ser verdade. Basta ler os livros,
para sentir a força que cada um tem. Um é melhor que o outro no sentido de
prender o leitor. Quando Cabeleira começa com as matanças, o livro passa a
ficar empolgante como uma história de aventura. Luisinha, por exemplo, vai
pegar água num poço mais longínquo e um homem tenta estuprá-la. Então aparece
sua mãe para protegê-la. O homem a agride com violência e dá a impressão em
Luisinha de que a mãe Florinda havia morrido (naquele momento, não, só depois).
Luisinha descobre que o homem era Cabeleira, seu amigo e amor de infância. Este
a liberta e vai proteger o esconderijo dos cangaceiros e termina matando, junto
de seus colegas, a quatro homens de bem.
É comum o romancista fazer a narração
ficar tensa, atrair a atenção do leitor e, estranhamente, mudar de assunto,
cambiar o foco e passar a tratar de outro tema. Muitos fazem isso, talvez a
maioria. O que conseguem é apenas esfriar a expectativa do leitor, talvez até
fazê-lo desinteressar-se.
Depois de Cabeleira parar de matar e
jogar suas armas num lago, promessa que fez a Luísa, esta morre, e um pelotão
de militares e sertanejos vão ao encalço do bandido. Aqui muda o foco da
narrativa. Um sertanejo chamado Marcolino promete a si próprio que caçará o
cangaceiro e começa a persegui-lo. Cabeleira estava com fome e pensou em matar
um homem para roubar-lhe a comida. Mas lhe apareceu Luísa numa visão lhe
rogando que não o matasse, e Cabeleira obedeceu à visão da sua amada.
No final do livro, depois de
Cabeleira ser enforcado, o autor faz longa defesa de bandidos, afirmando que a
Pena de Morte não contribuiu em nada com a diminuição da criminalidade no Norte
e no Nordeste brasileiros. Parecia um petista defensor dos Direitos Humanos
para bandidos, mas ele escreveu tal declaração em 1876. Enfim, é um clássico e
vale a pena lê-lo.
************************************************************************************************
GUERRA E PAZ, DE TOLSTOI
A melhor forma de conhecer uma cultura estrangeira é vivendo alguns
anos em outro país. Porém, quando a pessoa não tem essa condição, outra
possibilidade seria lendo os clássicos da literatura daquele país. Guerra e Paz
(1865), de Liev Tolstoi, com 1531 páginas, conta a história da invasão de
Napoleão na Rússia entre 1812 e 1814. Há várias curiosidades do povo russo.
Uma delas é que a classe nobre falava francês. Quando estavam conversando,
lá pelas tantas, mudavam para a língua de Flaubert. Era um costume um tanto
esnobe, mas que os russos gostavam de fazer. A narrativa se desenvolve com
longos diálogos e enfocam a família do príncipe André, seu pai e a irmã Maria.
Outro detalhe é que Napoleão proibia os soldados franceses de saquear e
roubar as residências dos russos ou estuprar as suas mulheres. Se eles
desejassem comida para os soldados, entravam numa fazenda, solicitavam
alimento e pagavam por isso. É surpreendente, porque se tratava de uma
guerra. Para exemplificar, as invasões dos vikings na Inglaterra foram
marcadas por mortes, roubos e estupros. Mas, enfim, trata-se de um clássico e
vale a pena andar por todas as 1531 páginas. Anos atrás, um diretor de
redação de uma revista de Porto Alegre dizia que um candidato a escritor
precisava ler Tolstoi se quisesse aprender a como escrever com frases curtas.
E Dostoievski uma vez foi pego copiando Guerra e Paz, porque desejava
aprender o estilo do mestre Tolstoi.
Eduardo Jablonski
Professor
*************************************************************************************************
PEDRO PÁRAMO, JUAN RULFO
Eduardo Jablonski
Professor
Numa entrevista para
televisão, Carlos Fuentes disse que Dom Casmurro, 1899, de Machado de Assis,
era o melhor romance latino-americano do século XIX e que Pedro Páramo,1955, de
Juan Rulfo, ocupava o mesmo posto no século XX. Pois Pedro Páramo é uma novela
curta. Uma edição disponível na internet soma apenas 68 páginas. Conta a
história de Juan Preciado, filho de Dolores. A mãe pede ao filho que vá a
Comala, uma cidade fictícia, para encontrar a seu pai, Pedro Páramo. Chegando
lá, Juan percebe que muitos são filhos de Pedro. A cidade está abandonada.
Encontra Eduviges, que vê espíritos, e
Juan também começa a encontrá-los. A construção narrativa é diferente, porque
aparecem cenas e conversas de outros personagens, tudo sem aviso. É como se a
narrativa tivesse um fio condutor, mas fosse recortada por diversos trechos ou
recortes, como um mosaico. Carlos Fuentes revelou ter perguntado a Rulfo onde
aprendera essa forma de narrar ou se a inventara, e o escritor lhe disse que
lia muito os romancistas nórdicos, isto é, da Suécia, Suíça, Finlândia e
Noruega, e eles escreviam assim. O interessante é que o escritor mexicano Juan
Rulfo é mundialmente conhecido apenas por essa novela. Ao longo de sua carreira,
publicou somente outros dois livros: El llano en llamas e El gallo de oro.
*******************************************************************************************************
SÉRGIO SANT’ANNA, OUTRA
VÍTIMA DO CORONAVÍRUS
A Conquista, de Coelho Neto
Professor
Trata-se de um livro que prende o leitor do início ao fim,
como os romances de Borges Netto e de Fernando Medina (dois companheiros do
Clube Literário de Gravataí). Sua temática é variada, aborda o dia a dia de
escritores que tentam viver de literatura num Brasil com 95% da população
analfabeta. Alguns deles, como ainda hoje acontece, resolvem destinar seus
textos à imprensa, para ter como se sustentar. Mas o jornalismo de então era
precário e incipiente. Como pano de fundo, se desenvolve a batalha para a
Abolição da Escravatura.
A história se dá talvez no mesmo ano da Abolição, 1888, e o
nome do jornalista José do Patrocínio é exaltado como um herói nacional. A
literatura tem esse poder de registrar um momento da história, o que acontecia
nos bastidores da política, do jornalismo e da literatura.
Outro detalhe importante a ressaltar é a malandragem de
Coelho Neto. A Conquista está repleta de piadas e frases de humor. É quase um
livro cômico. Lendo esse romance, dá para entender por que dizem que Coelho
Neto publicou perto de uma centena de romances.
********************************************************************
O CABELEIRA 1876
Eduardo Jablonski
Professor
Em 1876, o cearense Frankling Távora
publicou um romance histórico sobre o que talvez tenha sido o primeiro
cangaceiro do Nordeste, o Cabeleira, enforcado cem anos antes. O argumento, portanto, é real, conta a
história de José Gomes, que se transformou num bandido por causa do seu pai,
Joaquim, que o ensinava a matar. No meio da narrativa, o autor emite opinião
sobre a maldade humana (1876, p. 18), e fica um tanto ridícula essa intromissão
do narrador. Sugere que o menino nasceu com bom coração (dentro do senso comum
de Rousseau, a teoria do bom selvagem), mas foi influenciado pelo meio e por
seu pai. Tal colocação quase faria com que o livro ingressasse na escola
naturalista, mas alguns posicionamentos melodramáticos o definem como
romântico. A mãe de José mostra racismo ao dizer que pelo menos o filho não era
negro como o pai (TÁVORA, 1876, p. 19). Luisinha se engraça pelo menino José,
que lhe pergunta se ela gostaria de se casar com ele. Luisinha diz que casaria
se José parasse de fazer mal aos bichinhos e bater nos meninos (TÁVORA, 1876,
p. 25). O desejo da moça terá repercussão no final da história, porque
transformou o caráter do cangaceiro. O romantismo também se dá no fato de criar
a personagem pai totalmente má, enquanto a mãe era totalmente boa. Não se trata
de seres humanos realistas, como os de Machado de Assis.
Alguns professores de Letras podem
pensar que os clássicos da literatura nacional têm importância apenas como
registros históricos, mas isso está longe de ser verdade. Basta ler os livros,
para sentir a força que cada um tem. Um é melhor que o outro no sentido de
prender o leitor. Quando Cabeleira começa com as matanças, o livro passa a
ficar empolgante como uma história de aventura. Luisinha, por exemplo, vai
pegar água num poço mais longínquo e um homem tenta estuprá-la. Então aparece
sua mãe para protegê-la. O homem a agride com violência e dá a impressão em
Luisinha de que a mãe Florinda havia morrido (naquele momento, não, só depois).
Luisinha descobre que o homem era Cabeleira, seu amigo e amor de infância. Este
a liberta e vai proteger o esconderijo dos cangaceiros e termina matando, junto
de seus colegas, a quatro homens de bem.
É comum o romancista fazer a narração
ficar tensa, atrair a atenção do leitor e, estranhamente, mudar de assunto,
cambiar o foco e passar a tratar de outro tema. Muitos fazem isso, talvez a
maioria. O que conseguem é apenas esfriar a expectativa do leitor, talvez até
fazê-lo desinteressar-se.
Depois de Cabeleira parar de matar e
jogar suas armas num lago, promessa que fez a Luísa, esta morre, e um pelotão
de militares e sertanejos vão ao encalço do bandido. Aqui muda o foco da
narrativa. Um sertanejo chamado Marcolino promete a si próprio que caçará o
cangaceiro e começa a persegui-lo. Cabeleira estava com fome e pensou em matar
um homem para roubar-lhe a comida. Mas lhe apareceu Luísa numa visão lhe
rogando que não o matasse, e Cabeleira obedeceu à visão da sua amada.
No final do livro, depois de
Cabeleira ser enforcado, o autor faz longa defesa de bandidos, afirmando que a
Pena de Morte não contribuiu em nada com a diminuição da criminalidade no Norte
e no Nordeste brasileiros. Parecia um petista defensor dos Direitos Humanos
para bandidos, mas ele escreveu tal declaração em 1876. Enfim, é um clássico e
vale a pena lê-lo.
A melhor forma de conhecer uma cultura estrangeira é vivendo alguns
anos em outro país. Porém, quando a pessoa não tem essa condição, outra
possibilidade seria lendo os clássicos da literatura daquele país. Guerra e Paz
(1865), de Liev Tolstoi, com 1531 páginas, conta a história da invasão de
Napoleão na Rússia entre 1812 e 1814. Há várias curiosidades do povo russo.
Uma delas é que a classe nobre falava francês. Quando estavam conversando,
lá pelas tantas, mudavam para a língua de Flaubert. Era um costume um tanto
esnobe, mas que os russos gostavam de fazer. A narrativa se desenvolve com
longos diálogos e enfocam a família do príncipe André, seu pai e a irmã Maria.
Outro detalhe é que Napoleão proibia os soldados franceses de saquear e
roubar as residências dos russos ou estuprar as suas mulheres. Se eles
desejassem comida para os soldados, entravam numa fazenda, solicitavam
alimento e pagavam por isso. É surpreendente, porque se tratava de uma
guerra. Para exemplificar, as invasões dos vikings na Inglaterra foram
marcadas por mortes, roubos e estupros. Mas, enfim, trata-se de um clássico e
vale a pena andar por todas as 1531 páginas. Anos atrás, um diretor de
redação de uma revista de Porto Alegre dizia que um candidato a escritor
precisava ler Tolstoi se quisesse aprender a como escrever com frases curtas.
E Dostoievski uma vez foi pego copiando Guerra e Paz, porque desejava
aprender o estilo do mestre Tolstoi.
*******************************************************************************************************